Jornalismo criminal com curso de formação


Jornal A União 08/09/2006

Desde a mediatização da criminalidade à liberdade de imprensa e ao segredo de Justiça, são vários os temas da primeira formação do género dirigida aos jornalistas.

Para já marcado para P. Delgada, o curso promovido pela PSP, Universidade dos Açores e Sindicato dos Jornalistas avalia a sua viabilidade para a Terceira.


Humberta Augusto


Jornalismo criminal com primeiro curso dirigido aos profissionais açorianos.

“Os Media e as Representações da Criminalidade” é o nome da acção de formação dirigida aos jornalistas açorianos promovida pelo Comando Regional da PSP, em protocolo com a Universidade dos Açores (UA) e o Sindicato dos Jornalistas (SJ).
A mediatização da criminalidade, a estatística criminal, a liberdade de imprensa, a evolução do conceito de violência, o segredo de Justiça, os modelos de organização e funcionamento das forças policiais – estes são apenas alguns dos temas que fazem parte da iniciativa formativa de 30 horas que já tem data marcada em São Miguel, entre os dias 6 e 29 de Novembro, em regime pós-laboral.
Contactada pelo jornal “a União”, a responsável pelo SJ nos Açores, Rita Teves, refere que é “pertinente alargar o curso para a Terceira”, não só pelo facto de a criminalidade ser um fenómeno “em crescimento” nos Açores, sobretudo nas duas ilhas com mais população, como pela necessidade que existe em os jornalistas fazerem uma “especialização na área judicial e criminal”.
Para já, decorrem negociações para a calendarização do curso na ilha Terceira, que deverá decorrer, afirmou Rita Teves, de “forma intensiva, durante uma semana” e com um número mínimo de quinze formandos, dados os elevados custos da deslocação dos formadores.
A presidente do SJ refere que as pré-incrições para o curso de formação contínua com certificação pela UA em São Miguel já soma cerca de trinta interessados.


Criminalidade crescente

Segundo o responsável pela acção de formação, o sociólogo da PSP Alberto Peixoto, este é um curso que já se justifica nas ilhas tendo em conta que “a nível regional tem sido crescente o número de abordagens jornalísticas aos fenómenos criminais”.
“Reflectir sobre os papéis e respectivos limites de intervenção legais de cada uma das instituições em matéria criminal, bem como a conciliação com o direito à informação e o papel dos jornalistas nas sociedade de informação é o grande objectivo do curso “Os Media e as Representações da Criminalidade”, sustenta o especialista.
Rita Teves refere que esta é uma forma de os jornalistas açorianos poderem usufruir da formação dos colegas do continente, exemplificando com a pós-graduação em “Jornalismo Judiciário” em Lisboa.
Trata-se da primeira acção de formação do género que, segundo os promotores, quer ter continuidade: “sendo esta iniciativa a primeira do género a realizar-se nos Açores, é nossa intenção após uma avaliação dos objectivos e da adesão do público alvo, dar continuidade a esta iniciativa através de outras edições para que se faça um jornalismo mais objectivo e mais adequado à disseminação junto da comunidade de um sentimento de segurança”, afirma Alberto Peixoto.


Mais valia jornalística

O especialista referiu à “a União” que o conjunto de conhecimentos ministrados neste curso serão “uma mais valia” para todos os profissionais do sector.
Além da explicação dos conceitos mais básicos sobre o universo da criminalidade, será explanada organização, com responsáveis e representantes presentes, e funcionamento das instituições que tem jurisdição na matéria, além dos interesses e os limites de divulgação da informação de cada uma e do papel dos órgão de comunicação social.
Questionado, o sociólogo não considera que tenham sido cometidos “excessos” por parte dos jornalista na cobertura do factos e eventos criminais, porém, não deixa de referir a “falta de rigor” e a “interpretação avulsa” que por vezes é publicada.
Coordenado e leccionado pelo sociólogo Alberto Peixoto, pós-graduado em Ciências Criminais, pós-graduado em Direito da Medicina e mestrando em Comportamentos Desviantes, o curso vai contar ainda com a participação de formadores convidados, entre os quais um juiz do Tribunal Judicial de Ponta Delgada, procurador adjunto do Ministério Público, juiz do Tribunal de Família e Menores, representante da Polícia Judiciária, representante operacional da PSP, GNR, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, entre outros.


Da criminalidade à mediatização

O curso “Os Media e as Representações da Criminalidade” dirigido a jornalistas e alunos da área do jornalismo está estruturado em quinze módulos. Além da explicação dos conceitos mais básicos como os de comportamentos desviantes e criminais, processos de criminalização e descriminalização, serão explanados os diferentes tipos de crime, contra o estado, a vida, o património, a humanidade, a sociedade, e os crimes de legislação avulsa.
A prevenção geral; as funções dos media face ao fenómeno criminal, a mediatização da criminalidade; a estatística e os relatórios criminais, os inquéritos de vitimização e de violência autorelevada; a evolução do conceito de violência; a visibilidade do sistema judicial; liberdade de imprensa e meios de comunicação; o papel do Ministério Público; publicidade e segredo de justiça; a devassa da vida privada; gravações e fotografias ilícitas; os modelos de organização da PJ, SEF; o paradigma científico do jornalismo e da criminologia; os programas civis de prevenção do crime; a vigilância de rua – estes são apenas alguns dos temas que constituem a formação organizada pelo Comando Regional da PSP, Universidade dos Açores e Sindicato dos Jornalistas.